sexta-feira, 15 de junho de 2012

Desafio da escola: formar pensadores

Um dos maiores desafios para as escolas do século XXI é formar pessoas capazes de refletirem sobre o mundo e as problemáticas que o circunda. Livros volumosos e caros, computadores com acesso à internet de alta velocidade, tablets e tantas outras ferramentas pedagógicas, por si só, não garantem a formação de um cidadão crítico e reflexivo. É preciso que as instituições escolares, em especial os professores e educadores, resgatem o exercício do pensar nos seus espaços de sala de aula, visando garantir a formação efetiva e integral dos seus educandos e integrando temas geradores de discussões sociais.

Muitos professores erram ao pensar que o mero contato ou acesso dos alunos às informações garantem aprendizagem, entretanto, não é bem isso o que ocorre. Para que haja uma aprendizagem efetiva é fundamental que o indivíduo, no caso o aprendente, assimile essa informação - adquirida por meio de livros, sites, blogs, dentre outros - e a acomode em suas estruturas cerebrais, desencadeando as famosas sinapses, de forma que se configure a aprendizagem. A esses dois processos, o epistemólogo suíço, Jean Piaget, deu o nome de "assimilação e acomodação".

Muitos estabelecimentos de ensino são verdadeiros monstros devoradores, porque devoram sem dó nem piedade crianças e adolescentes, incutindo-lhes o desejo desenfreado de serem aprovados no vestibular desde tenras idades. Na maioria das vezes, essas escolas oferecem um ensino puramente tradicionalista, pautado apenas na recepção passiva de informações, sem ocorrência da construção do conhecimento por parte dos alunos. Ora, já é sabido que o que é realizado pelos educandos têm mais significado para estes. Como poderemos então forçar-lhes a aprender uma coisa que não faz sentido, tampouco faz parte de sua realidade?

Para formar pensadores é preciso que o professor, primordialmente, seja um sujeito instigador, facilitador, mediador, pesquisador e questionador das ideias e concepções vigentes. O educando precisa compreender que os conhecimentos dispostos para a humanidade não estão "prontos e acabados", mas em constante processo de reformulação e dinamicidade. É essencial que o aluno entenda que ele próprio pode contribuir para essa reformulação. Trata-se de formar indivíduos críticos, conscientes e agentes de mudanças na sua comunidade.

Um dos métodos eficazes na Grécia Antiga, e que ainda surte muito efeito na Educação, é maiêutica. A maiêutica, palavra grega que significa "arte de trazer à luz", foi um método criado pelo filósofo grego Sócrates, e que consistia em questionar os argumentos apresentados pelas pessoas, de forma que através desses questionamentos, o indivíduo percebesse a fragilidade e muitas vezes o equívoco de suas convicções a respeito de algum assunto. Os estímulos maiêuticos nada mais são do que a proposta de desenvolvimento da autonomia do cérebro, isso no que diz respeito ao aspecto da cognição, através de perguntas criativas e propositivas. Não se trata de "despejar" perguntas e mais perguntas para os alunos, mas lançá-las deforma planejada e sistematizada, procurando sempre, através dessas indagações instigantes e desafiadoras, suscitar o imaginário e a reflexão no sujeito.

Formar crianças, jovens, adultos e idosos baseados na "decoreba" do Ensino Tradicional é um crime, tanto contra a produção intelectual do país, como para os próprios aprendizes, que levarão para o resto de suas vidas as marcas de um ensino deficiente e incompetente.

Ivanilson Costa é pedagogo, mestrando em Ciências da Educação, escreve a convite do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), que colabora às sextas-feiras.

Diário de Natal

Nenhum comentário:

Postar um comentário