domingo, 5 de fevereiro de 2012

Escolas infantis investem na adaptação do aluno

Início de ano letivo significa, além de novos horários, hábitos e gastos, choro na porta das escolas - especialmente naquelas que cuidam de crianças pequenas. No intuito de amenizar o impacto da separação dos pais de primeira viagem e dos filhos que acabam de ingressar na educação infantil, escolas particulares procuram adaptar gradativamente os novos alunos e oferecem até psicopedagogas para auxiliar as famílias.
Segundo especialistas, o medo, a tensão e a ansiedade que rondam os primeiros dias de aula podem ser passados dos pais, nervosos com a situação, para as crianças, já assustadas com as novidades.
Para evitar que o processo se torne ainda mais traumático e culmine em gritos e lágrimas, o ideal é que as famílias sintam o máximo de confiança possível na escola escolhida.
"Os pais ficam muito preocupados em como vão ser esses primeiros dias desde a hora de fazer a matrícula", afirma Cristina Marcondes, orientadora educacional da educação infantil da Escola Stance Dual. "Por isso, antes de começar as aulas, fazemos uma reunião específica para essas famílias, onde abordamos os modos com que lidamos com mamadeira, chupeta e fralda, por exemplo, além de apresentarmos os professores e explicarmos como adaptamos os alunos."
Outra forma que as pré-escolas encontram para acalmar os pais mais inseguros é fazer entrevistas com eles, onde uma ficha com todos os dados da criança é preenchida. Detalhes como se a mãe teve problemas no parto e se o filho tem restrições alimentares, alergias e medicações fixas são destacados.
"A escola perguntou coisas da rotina da criança, o que achei bem interessante. Por exemplo, perguntaram se, quando minha filha acorda, ela fica tranquila ou assustada", diz a advogada Patrícia de Sá Pinto, de 28 anos, mãe de Beatriz, de 2, que acaba de se matricular na pré-escola do Colégio Renovação. "Essas coisas deixam a gente mais tranquila, porque mostra que eles estão atentos às peculiaridades de cada criança."
Primeiros dias. Hoje, grande parte das escolinhas particulares permite que os pais participem dos primeiros dias de aula. Normalmente, o processo ocorre de forma gradativa. No primeiro dia, pai e filho ficam por cerca de uma ou duas horas na escola - algumas permitem, nessa fase, que os pais fiquem ao alcance das crianças. Conforme as semanas vão passando, o tempo de permanência da criança vai aumentando progressivamente, até a ambientação completa.
"Esse é um período de conquista: o aluno precisa ser conquistado pela escola", explica Camila D'Amico, coordenadora pedagógica da educação infantil do Colégio Graphein. A escola oferece um espaço onde os pais permanecem nos primeiros dias, além de deixar uma orientadora educacional dedicada exclusivamente a conversar com eles. "Também deixamos, nesse começo, as crianças trazerem um objeto de apego, como um bicho de pelúcia", conta Camila.
Mas, mesmo com todos os cuidados, os pais ficam nervosos e as crianças choram - e muito - ao serem separadas deles. Segundo especialistas, é preciso ter coragem para lidar com a situação.
"A mãe deve ser firme, porque esse choro é muito comum. Ela deve participar desses primeiros dias mas, se ficar junto do filho o tempo inteiro, a adaptação não ocorre", afirma Alessandra Cavalcante, do Hospital e Maternidade São Luiz. "O começo nunca é fácil. Tem criança que chora até dois meses depois de as aulas começarem. Os pais devem ser fortes."
Angústia. Uma pesquisa realizada com 235 mulheres pelo site Mamatraca, especializado em maternidade, mostrou que as mães percebem o início da vida escolar dos filhos com ansiedade, preocupação, culpa e medo. Esses foram os sentimentos mais citados por elas ao deixar as crianças na escola ou na creche pela primeira vez.
É mais ou menos o que a educadora física Fabiana Gianini do Nascimento, de 34 anos, está sentindo. Camila, sua filha de 2 anos e 10 meses, acaba de ingressar no Colégio Santa Maria - as aulas começam amanhã. Para Fabiana, o principal temor é confiar os cuidados da filha a pessoas estranhas, mesmo conhecendo a estrutura e a pedagogia do colégio.
"Quem está com frio na barriga sou eu. A Camila está muito feliz em ir para escola", conta. "Já chorei umas duas vezes. Penso muito em como vai ser quando eu chegar do trabalho e ela não estiver em casa."
Mesmo as famílias mais tranquilas passam pelos momentos de dúvida. É o caso da professora Fernanda Gomes, de 37 anos, mãe de Henrique, de 1 ano e 9 meses. "Trabalho com crianças e, por isso, fico mais calma. Mas a gente sempre tem medo do novo", conta.
Segundo as escolas, as dúvidas mais recorrentes dos pais são referentes a alimentação e higiene -- especialmente o banho e a troca de fraldas. A relação com os novos coleguinhas também assusta- os pais temem, principalmente, que os filhos apanhem dos outros alunos.
"Além disso, os pais questionam se vai ter alguém sempre por perto para observar o seu filho", diz Edith Sonagere Nakao, orientadora da Educação Infantil do Santa Maria.

Estadão

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