segunda-feira, 19 de março de 2012

Ortografia oficial do português muda definitivamente a partir de 2013

Este ano é pra valer: 2012 marca o final da transição para o novo acordo ortográfico adotado em 2009 pelos países lusófonos. Seu objetivo é unificar a ortografia onde o idioma é falado, acabando com as diferenças de escrita.
No entanto, após dois anos de convivência com as novas regras, muitas pessoas ainda desconhecem as mudanças. O Portal Aprendiz conversou com profissionais da linguagem que lidam diretamente com o idioma em seu cotidiano profissional e criativo para contar  como se adaptaram à nova escrita.

Os países que assinaram o acordo são: Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Portugal, São Tome e Príncipe, Angola, Moçambique, Timor Leste.  De acordo com informações da Academia Brasileira de Letras, o Brasil é o único dos países onde o acordo entra definitivamente em vigor a partir de 2013. Para Portugal a data final é 2014. Os demais países ainda estão por definir.
A professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Neusa Bastos, destaca que “uma transição ortográfica é sempre problemática”. Para ela, que acompanhou as reformas de 1945 e 1971, cada mudança obedeceu a propósitos diferentes. “O atual visa uma unidade intercontinental mais ampla, que favoreça o prestígio da Língua Portuguesa no mundo”, afirma a docente. “Tanto em suas formalizações institucionais, no caso de documentos enviados à ONU [Organização das Nações Unidas], por exemplo, quanto pela inserção no mercado editorial, que seria facilitada”.
Neusa Bastos relata que, para aprender as novas regras, ela própria recorre às fontes que tem à mão.“Nos acordos anteriores, tínhamos só o dicionário. Hoje você tira suas dúvidas pela internet.”
Em tempos informatizados, ela relembra uma história curiosa: na década de 80 e 90 popularizou-se um serviço telefônico chamado “SOS Português”, para o qual as pessoas ligavam, apresentavam suas dúvidas e podiam consultar com um professor. “Muitas secretárias ligavam perguntando, por exemplo, sobre o uso correto dos pronomes ao redigir um memorando.”
A revisora Lívia Perran enfrenta no cotidiano as dificuldades para lidar com o novo acordo, muitas vezes com formulações ambíguas. Ela, que há quatro anos trabalha com livros didáticos numa grande editora do ramo avalia que, com as regras mais básicas, como a mudança na acentuação de paroxítonas terminadas em ditongo, a adaptação foi mais fácil.
O problema maior veio com o polêmico uso do hífen, ou a junção dos prefixos. “No começo, quando nem o vocabulário ortográfico da Academia Brasileira de Letras [VOLP] tinha a forma correta, o jeito era reescrever o texto final do livro. Então, por exemplo,  ‘reescreva o texto’, num exercício do livro didático, virava ‘escreva o texto novamente’”, afirma.
O Volp - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
Para se adaptar, Perran estudou as mudanças, começando pelas regras mais básicas. “A própria editora que trabalho fez um manual com alterações”. Quando as dúvidas permanecem mesmo recorrendo ao Volp, ela consulta o próprio site da Academia Brasileira de Letras. Na seção “ABL Responde” é possível encaminhar, por meio de um formulário na própria página, as perguntas menos comuns para a instituição. “Costuma demorar, mas eles respondem”, atesta Lívia.
O poeta Glauco Mattoso, adepto de outras grafias, defende em um manifesto bem humorado as formas anteriores às mudanças de 1943. “Antonio Houaiss, mentor desta ultima reforma [aqui o poeta se refere ao acordo atual], allegou que o motivo seria melhorar a communicação entre paizes lusophonos, especialmente em tractados internacionaes. Ora, temos mais o que fazer!”, diz o texto.
Mais adiante, ele argumenta: “por acaso inglezes e americanos deixam de se entender só porque um escreve HUMOUR e THEATRE e o outro escreve HUMOR e THEATER?”. O artigo completo saiu originalmente na revista Língua Portuguesa na edição de março de 2009 – no email enviado para a redação, Mattoso grafa “Portugueza”.
Com s ou com z, com acento ou sem acento, tem hífen ou é tudo junto, todo mundo já fez esse tipo de questionamento. Entre as diversas possibilidades de aprendizagem, uma boa forma de rever o conteúdo e fixar as transformações, além da leitura de jornais e revistas, em que as mudanças são adotadas de forma mais dinâmica do que nos livros, são os vídeos disponíveis online.
No canal do Universia no youtube o internauta encontra uma seção com os principais tópicos do novo acordo. Os vídeos são curtos e podem servir como uma forma de aprendizado da nova ortografia.

Aprendiz

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