No início do mês de fevereiro, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou a distribuição de 600 mil tablets para professores do ensino médio. Ao comentar sua decisão, no início de março, o ministro disse que as escolas precisam ficar mais atrativas para os alunos e que investir nesse tipo de tecnologia pode ser uma alternativa à evasão escolar. A aposta nos tablets em sala de aula é tão grande que alguns colégios de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília já começaram a exigi-los na lista de material Escolar. Só que a questão vai muito além da disponibilidade dos aparelhos nas escolas. É preciso pensar em pontos como a capacitação dos professores para o uso dos aparelhos e a estruturação do espaço escolar para este fim. Estes e outros assuntos são comentados pelo educador Ivanilson Costa.
Ivanilson Costa é escritor (autor do livro: Novas tecnologias: desafios e perspectivas na Educação, 2011), pedagogo, pós graduando em Psicopedagogia, Tecnologias e Educação a Distância, professor em Santa Cruz/RN e membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – SBNEC e blogueiro (www.ivanilson.com), nesta entrevista exclusiva a revista TIC Educação. TIC - Desde o anúncio, pelo ministro Mercadante, da distribuição de 600 mil tablets para professores do ensino médio, especialistas em educação têm discutido a real necessidade deste projeto. Muitos acreditam que ele não atende às prioridades das escolas públicas do país. Qual sua opinião a respeito? Quais as reais prioridades das escolas públicas brasileiras?
Ivanilson Costa -As novas tecnologias devem fazer parte do cotidiano das instituições escolares, isso é inquestionável pelo fato de que estamos vivenciando a Era da Informação e a escola não pode continuar com metodologias velhas e ineficazes, totalmente desvinculadas das realidades dos seus educandos. Mas, outro questionamento que devemos fazer é: de que forma deve acontecer a inserção das novas tecnologias na escola? Para a realização de um trabalho eficaz, com a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação - TIC, sejam elas quais for, é essencial a estruturação do espaço escolar. Quando me refiro a estruturação, refiro-me: a própria infraestrutura da escola para esse fim; formação inicial e continuada dos professores, visando o trabalho com os fins técnicos e sociais dessas ferramentas no ensino; e atualização dos softwares e equipamentos regularmente. De nada adianta superlotar as escolas de subsídios tecnológicos de última geração se estas não têm um suporte estrutural. A prioridade é, portanto, a adequação das instituições educacionais públicas à inserção das novas tecnologias nos seus espaços de aprendizagem.
TIC - Algumas escolas particulares já começaram a exigir tablets na lista de material Escolar. Caso as escolas públicas não acompanhem este processo não há o risco de seus alunos ficarem atrasados em comparação com estudantes das escolas particulares, além de desatualizados acerca das novas tecnologias?
Ivanilson Costa -Se as escolas públicas não evoluírem com a sociedade, correrão o risco de fadarem-se ao fracasso. É claro que as novas tecnologias não são as “salvadoras da pátria”, mas garantem a inclusão digital dos indivíduos e são capazes de desenvolverem uma aprendizagem mais significativa e completa. Se os professores não ministrarem uma aula prazerosa, divertida, dinâmica, enfim, consonante com as realidades dos seus alunos, correrão o risco de ficarem sozinhos nas suas salas, dando aula para as paredes. Vale salientar que as novas tecnologias, usadas de forma indiscriminada, poderão não surtir o efeito desejado, isso porque elas são ferramentas auxiliares dos professores, são complementos, junto com os outros materiais didáticos, para as aulas. Para inserção dos tablets ou de quaisquer novas tecnologias nas escolas públicas é fundamental, como já enfatizei, a estruturação dessas instituições.
TIC - Poderia comentar a respeito do potencial deste equipamento em sala de aula. Em que os tablets podem contribuir ao aprendizado dos alunos?
Ivanilson Costa -Os tablets, como os computadores, são ecléticos e divertidos, oferecendo diversas funcionalidades, tanto para alunos como para os professores. Podem ser utilizado desde a alfabetização de crianças à resolução de problemas matemáticos de alta complexidade. Algumas escolas brasileiras de educação infantil já utilizam o tablet como instrumento de interação entre crianças e tecnologia. Saliento que o uso indiscriminado do tablet, ou qualquer tecnologia na escola, pode ocasionar o efeito contrário desejado, ou seja, em vez de promover o conhecimento, acaba por não surtir o efeito almejado. É fundamental, além da estruturação da escola, um planejamento bem elaborado para o uso desse recurso na sala de aula e que esteja em consonância com as realidades dos aprendizes. Os alunos têm um fascínio muito grande pela tela digital. Telas com tecnologia Touch screen, como possuem os tablets, são divertidas, interativas e promovem um aprendizado mais concreto, comparado ao método meramente expositivo da Pedagogia Tradicional.
TIC - Ouvimos muito falar na intenção do governo de disponibilizar equipamentos tecnológicos para os alunos nas escolas, mas pouco se fala da atualização do professor. Como está sendo trabalhada a formação do professor para o uso destes novos equipamentos?
Ivanilson Costa -A formação inicial e continuada dos professores para o uso das novas tecnologias na sua prática pedagógica é um procedimento fundamental. Como os professores poderão utilizar as TICs nas suas aulas se não sabem operar esses equipamentos? Lembro-me que um estado nordestino desenvolveu um programa destinado a distribuição de computadores portáteis para os professores da rede estadual de ensino, visando o auxílio destes na prática pedagógica, o resultado foi catastrófico, isso porque os professores não receberam formação para trabalhar com os notebooks. Alguns, sequer, sabiam ligar a máquina, outros acabaram vendendo o equipamento. Alguns programas, como o PROINFO, por exemplo, oferecem formação, mas equivalente apenas a um curso inicial, pelo menos é o que acontece na minha cidade. Não há uma formação eficiente para a utilização das novas tecnologias na escola, apenas vê-se como ligar a máquina, entrar na internet e fazer um blog. Praticamente não existe nas universidades um aprofundamento prático, por parte do programa acadêmico, apenas teorias e discussões. As universidades que oferecem licenciatura ainda deixam muito a desejar nesse quesito. É preciso garantir formação continuada, no sentido literal, e não apenas um curso inicial.
Revista Tic Educação
http://www.ticeducacao.com.br
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