O modo como as escolas brasileiras ensinam as crianças a ler e a escrever está ultrapassado. Essa é a conclusão de pesquisadores da Associação Brasileira de Ciências, depois de cinco anos de pesquisa. As metodologias utilizadas no Brasil, segundo o levantamento, tiveram a ineficácia comprovada por estudos internacionais que serviram de base para mudanças nas políticas de alfabetização em vários países. Para os especialistas, os métodos fônicos—que associam diretamente grafemas (letras) e fonemas (sons)—são comprovadamente os mais eficazes na iniciação dos pequenos no mundo das letras.
Para João Batista Oliveira, um dos pesquisadores responsáveis pela parte do trabalho que trata especificamente da alfabetização, nem mesmo a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos, em 2007, melhorou as condições de ensino. “Mais tempo de estudo só adianta se for bom”, afirma.
Na opinião da professora de pedagogia da Universidade de Brasília (UnB) Norma Lúcia Neris Queiroz, o método fônico pode ser complicado para alguns alunos. “A criança precisa lidar com o som dos fonemas, o que não é uma coisa fácil”, destaca. Ela afirma que iniciar a alfabetização utilizando textos interessantes para os alunos pode ser uma forma de melhorar a qualidade da aprendizagem. “Mas não pode ser uma publicação comum, de cartilha. É preciso escolher uma parlenda, uma fábula, algo com o que as crianças possam brincar.” Independentemente da forma de ensino adotada, Oliveira e a docente da UnB concordam que a formação de professores no país é deficiente e que isso influencia diretamente o desempenho dos alunos. Além disso, um problema que atinge as escolas públicas é a falta de formalização de um plano de ensino.
Na prática, cada professor adota um método em sala de aula, ainda que o Ministério da Educação (MEC) desenvolva manuais para orientá-los. Nas instituições privadas, por outro lado, a metodologia é definida pelo próprio colégio. “É uma injustiça que, na escola particular, o ensino seja de um jeito e, na pública, de outro”, afirma João Batista Oliveira. “Só depois de alfabetizado, o aluno consegue aprender outras coisas.”
Pouco estímulo - Heloísa Oliveira Machado, professora de educação infantil há 30 anos, seis deles dedicados ao ensino da leitura. Ela afirma que sempre teve resistência em trabalhar na alfabetização por causa do conteúdo pouco estimulante das cartilhas. “Eu não via muita lógica nelas, já que roubam a melhor parte do aprender a ler e escrever.” A paixão pela área só surgiu quando ela conheceu os estudos da psicogênese, ramo da psicologia que estuda a origem dos processos mentais. “Finalmente se esclareceu não como o professor deve ensinar, mas como a criança aprende.” Hoje, ela dá aulas para alunos do 1º ano do ensino fundamental na Escola Classe 204 Sul. A professora diz que não segue uma metodologia definida e que combina aspectos da psicogênese, do letramento e do fônico. A professora explica que é fundamental a criança estabelecer relação entre o que fala e escreve. Heloísa diz que a maioria dos seus alunos já lê, mesmo que alguns deles tenham iniciado o ano letivo ainda sem conhecer o alfabeto.
Enquanto isso, na rede privada, o ensino das letras é antecipado. Aos 4 anos, Laura de Oliveira, que estuda numa escola em Águas Claras, começou a ter as primeiras lições. O pai dela, o consultor de telecomunicações Fabiano de Oliveira, diz que o processo foi iniciado com a apresentação das letras do nome da menina e dos familiares, e, depois, o vocabulário foi ampliado. “Pelo que conversei com a professora, a alfabetização terá mais ênfase no ano que vem, quando ela estiver com 5 anos”, conta. O colégio onde Laura estuda não oferece o ensino fundamental. Fabiano diz ainda não ter escolhido a instituição onde amenina vai estudar quando terminar a educação infantil. Ele pretende pedir indicação na própria escola, na tentativa de encaminhar a filha a um colégio que siga a mesma linha de trabalho do atual.
Prova dos nove - Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa),em 2009, o Brasil ficou na 54ª posição entre os 65 países avaliados. O exame mede a capacidade de leitura de alunos de 15 anos que estudam em escolas públicas. E numa escala de 1 a 5—em que 1 significa que o aluno é capaz de identificar palavras, e 5 é a nota para quem tem leitura fluente —, os brasileiros ficaram com média 2. O resultado geral, que também inclui questões de matemática e de ciências, foi inferior ao da Tailândia, da Romênia e de Trinidad e Tobago. A Prova Brasil, aplicada pelo Instituto de Pesquisas de Estudos e Pesquisas AnísioTeixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação, mede a compreensão dos estudantes do 5º ao 9º ano nas disciplinas de português e de matemática. No exame aplicado em 2009, a nota média nacional em leitura foi de 179, 58, o que enquadra os alunos no nível 3 em uma escala que vai até de 0 a 9. Isso significa que os alunos puderam interpretar, a partir de inferência, textos não verbais de assunto complexo e identificar elementos que compõem uma narrativa de tema e de vocabulário complexos. No DF, a situação é um pouco melhor: os estudantes brasilienses atingiram nota média de 200, 93, atingindo o nível 4. Ou seja, eles foram capazes de selecionar informações implícitas e explícitas de um personagem e de inferir o sentido de uma metáfora, entre outras habilidades. A Prova Brasil é bianual, e de 7 a 18 de novembro, o Inep aplicou a última edição do exame.
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