terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Brasil humilha seus professores

A Constituição do Brasil estabelece que a educação é direito de todos os cidadãos e dever do Estado. O professor é peça fundamental para cumprir essa determinação da nossa Carta Magna. Mas assistimos, hoje, a uma assustadora carência de profissionais no magistério. Segundo o Ministério da Educação, faltam 710 mil professores no país, 235 mil só no ensino médio. Já de quinta a oitava série o número dobra, vai para 475 mil. Com o aumento do número de jovens matriculados no Ensino Médio, o Brasil pode passar por um apagão de professores. A situação se agrava quando se analisa a situação dos cursos de licenciatura nas universidades, que possuem as maiores taxas de evasão e a menor procura no vestibular.
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC) sobre a educação básica indicam que são necessários 235 mil professores no ensino médio e 476 mil para as turmas de 5ª a 8ª série, totalizando 711 mil professores. Segundo o órgão, nos últimos anos, o número de professores formados nos cursos de licenciatura foi de 457 mil, gerando uma lacuna de cerca de 250 mil docentes. O estudo feito pelo INEP revela que o Brasil necessitaria de 55 mil professores de Física e o mesmo número de Química. Entre 1990 e 2001, apenas 7.216 professores graduaram-se em Física e 13.559 em Química. Os dados apontam que o magistério se tornou uma profissão em extinção.
O que dizer do Professor Universitário? É uma pessoa que estuda entre 25 a 30 anos para obter um título de Doutor e ganhar um salário ultrajante. O professor universitário, com doutorado e pós-doutorado, ganha R$5.500,00. Deveria ganhar por volta de 20.000,00. Um analista federal, com curso superior, sem nenhuma pós-graduação, ganha em torno de 8 a 12 mil. Um Fiscal de Rendas, com apenas o Curso Superior, ganha 16.000,00. Em Brasília, no Senado Federal, segundo dados do Correio Brasiliense, os auxiliares legislativos, como ascensoristas e motoristas — funções de nível fundamental — podem ter o teto da carreira estipulado em quase R$ 17 mil com as gratificações. Um motorista do Senado ganha mais para dirigir um automóvel do que um oficial da Marinha para pilotar uma fragata. Um diretor que é responsável pela garagem do Senado ganha mais que um oficial-general do Exército que comanda uma Região Militar ou uma grande fração do Exército. É uma disparidade que não é possível compreender o bom-senso. Por isso tudo as universidades federais começaram o segundo semestre de 2010 com carência de, pelo menos, 800 professores efetivos na rede de ensino. Que país é esse?
Já faz muito tempo que a carreira do magistério deixou de ser atraente. O salário de um professor nos anos 50, do século XX, equiparava-se ao de um juiz, hoje é cerca de dez vezes menor. Hoje a situação do professor da Rede Pública de Ensino, na Educação Básica, é humilhante. Também é humilhante em qualquer outro nível, tanto no ensino médio quando no ensino superior. O salário de professor é o mais baixo entre as carreiras que exigem graduação para poder ser exercida. Médicos e advogados chegam a ter um salário dez vezes maior que o de um professor. Um juiz recebe um salário 20 vezes maior que o professor. E ele precisa ser, apenas, graduado em Direito. Qual o motivo de tamanha disparidade salarial?
Este ano, apenas 2% do orçamento foi destinado à educação e 30% foram destinados para o pagamento da dívida externa do país. O resultado dessa política é que o Brasil, apesar de ser a oitava economia do mundo, ocupa o vergonhoso 88º lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação (IDE) elaborado pela Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).Desse modo, percebe-se que, ao contrário do que rege nossa Constituição, a educação em nosso país não é tratada nem como prioridade nem como um direito de todo cidadão  - e dever do Estado. Os filhos de trabalhadores estudam em escolas com estruturas precárias onde faltam laboratórios de ciências e informática e que são invadidas pela violência e pelas drogas. Não há uma política séria para se elevar o nível de aprendizagem dos estudantes, no Brasil, e o que em alguns locais se chama progressão continuada é simplesmente uma aprovação instantânea.
Os professores têm uma carga horária estressante, baixos salários e péssimas condições de trabalho. São alguns dos fatores que fazem um número cada vez menor de interessados na carreira docente. Muitos são os professores da rede pública de ensino que mudam de profissão por não terem mais condições de sustentar a si e a sua família. Por isso, é fundamental que nós professores nos unamos, em cada Estado, para lutar por nossos direitos e por um país que respeite a educação pública.Professor é sacrifício, é fome, é dor, é sala lotada, salário de fome, é humilhação todos os dias, do começo ao fim.
A desvalorização do professor é crônica. E estatísticas apontam que daqui há alguns anos será raro quem queira aspirar essa profissão. Contudo, não é a profissão professor que é humilhante, é quem “pensa” a educação e que tem o poder da caneta, de impor políticas públicas que relega a essa profissão à miséria e à humilhação. Se a profissão professor fosse pensada, planejada e estruturada por professores, e não “burrocratas”, dificilmente seria esta visão que a sociedade teria de quem leciona. Uma boa resposta para quem leciona hoje sobre se é ou não vergonhoso ser professor poderia ser: “Não tenho vergonha de ser professor, tenho vergonha das condições sobre as quais sou submetido por planos e mais planos que prioriza números e não pessoas”. É como diz o chavão Lula: Nunca na história desse país se deu tão pouca atenção à educação.


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