Por muito tempo, e até os dias atuais, as ideias de Alfred Binet sobre a mensuração da inteligência por um único teste padronizado de inteligência, o chamado Quociente Intelectual – QI, foram utilizadas em inúmeras seleções e avaliações psicológicas, sendo determinante para o reconhecimento e ascensão de um bom estudante ou profissional.
Com o passar do tempo e a contestação dessas ideias por outros estudiosos, como o psicólogo Howard Gardner, por exemplo, que desenvolveu a teoria das Inteligências Múltiplas, os fundamentos de Binet foram, aos poucos, sendo substituídos por conceitos mais elaborados e profundos sobre o comportamento e o desenvolvimento psicológico dos indivíduos.
Apesar de se saber da importância da intelectualidade no século presente, essa capacidade não se constitui como única determinante para o pleno desenvolvimento psicointelectual do sujeito, pois é muito relevante também que o indivíduo possa se desenvolver emocionalmente, o que Daniel Goleman chama em seu livro “Inteligência Emocional” de Quociente Emocional – QE. Goleman ressalta que a crise que a humanidade vive hoje, com aumento da criminalidade, violência e infelicidade é o reflexo de uma cultura que se preocupou apenas com o intelecto, esquecendo o lado emocional da pessoa.
Tanto o QI quanto o QE podem ser desenvolvidos e potencializados, dependendo da orientação da pessoa que pretenda desenvolvê-los. Concebe-se, portanto, que esses quocientes não têm a qualidade de serem estáticos, mas podem ser aprimorados e desenvolvidos durante a vida do indivíduo.
Ainda segundo os estudos de Goleman as pessoas só utilizarão 15% do que aprenderam na escola na sua vida prática, enquanto a inteligência emocional demanda 85% da capacidade do indivíduo na sua convivência social.
O questionamento que se faz é: Por que se dá tanta ênfase ao ensino apertado, ao cumprimento rigoroso de programas, provas, testes dentre outros, e se ignora ou desconhece-se a Inteligência Emocional? Não é proveitoso formar-se adultos, estudiosos, cientistas cultos se não sabem lidar com o outro, se são sujeitos frios, desprovidos de sensibilidade e humanismo.
A importância de se educar as emoções é notável, pois uma pessoa educada, emocionalmente, é um ser equilibrado, que sabe lidar com uma variedade de situações do cotidiano e com as pluralidades de ideias, pessoas e sentimentos. Destaca-se que educar para as emoções não significa abandonar os conteúdos do currículo escolar convencional, mas integrá-las de forma que sejam trabalhadas constantemente, destacando sempre seu caráter inter e multidisciplinar.
Como destaca o educador Paulo Freire “e escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima”. A escola não é uma mera construção de concreto e cimento, mas uma célula viva, viva como a própria educação, não consiste, portanto, numa experiência fria, mas repleta de ações, vivências e emoções.
As instituições escolares e os pais precisam atentar para o fato de que qualidade no ensino não significa horas exaustivas de estudos e notas boas, mas a capacidade do educando ser autônomo, ter autonomia para (re) elaborar conhecimentos; colaborativo, saber lidar com o outro e trabalhar em equipe; e um ser criativo, dinâmico. O memorável educador Rubem Alves destaca que muitas escolas não passam de jacarés. Devoram as crianças em nome do rigor, do ensino apertado, da boa base, do preparo para o vestibular. É com essa propaganda que elas convencem os pais e cobram mais caro... Mas e a infância? E o dia que não se repetirá nunca mais? Infelizmente o Brasil ainda tem muito dessas escolas, “escolas jacarés”.
Ivanilson Costa é escritor (autor do livro: Novas tecnologias: desafios e perspectivas na Educação, 2011), pedagogo, pós graduando em Psicopedagogia, Tecnologias e Educação a Distância, professor em Santa Cruz/RN e membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – SBNEC e blogueiro (www.ivanilson.com).
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